Dra. Débora Christina Ribas D'Ávila

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23/07/2011

Bons Professores: títulos ou motivação?

Pesquisadores de quatro universidades brasileiras analisaram 165 estudos nacionais e internacionais sobre aprendizado escolar e concluíram que o fator mais importante em sala de aula é a qualidade do professor. Uma das análises revelou que um bom docente aumenta em até 68% a proficiência do aluno. O levantamento faz parte de uma iniciativa do movimento Todos pela Educação e do Instituto Ayrton Senna, cujo objetivo é apontar caminhos para a melhoria do ensino no Brasil.

O tamanho e a composição da turma ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking dos fatores que mais influenciam a capacidade de aprendizado. Classes menores permitem atendimento individualizado e turmas homogêneas – com alunos da mesma idade e desempenho semelhante – facilitam o preparo da aula e a exposição do conteúdo. Em seguida vem o calendário escolar – com fatores como o número de dias letivos e de faltas dos docentes – e a experiência do professor em sala de aula.

Estudos demonstram que um aluno que estuda com os melhores professores da rede em vez de ter aula com os piores docentes aprende cerca de 68% a mais do que o aprendizado médio dos alunos durante o ano letivo.

Critérios frequentemente usados para seleção dos profissionais e definição de salários, como titulação e anos de carreira, não são sinônimos de qualidade. O sucesso do professor pode depender mais de características não observadas nas pesquisas, como liderança, motivação e persistência.

Quanto maior o número de alunos por classe, menor a atenção dada pelo professor a cada um, o que pode comprometer o aprendizado. Menos estudantes é sinônimo de atendimento individualizado.

Estudos indicam que o aprendizado é mais favorável em classes homogêneas, pois o professor pode preparar a aula segundo o nível da turma. O docente também se sente mais motivado e empenha-se mais em ensinar.A diversidade da turma traria por si só ganhos para os alunos em termos de convivência e respeito às diferenças.
Ter aula com um professor inexperiente, comparado a um docente com no mínimo dois anos de experiência, faz os alunos aprenderem 22% a mais no ano letivo. Além disso, é crescente a indicação de que a experiência do professor é mais importante nas comunidades mais vulneráveis.

A ausência do professor pode ter não só um impacto direto no aprendizado dos alunos, com a redução no número de aulas, mas também um efeito indireto sobre sua motivação.

- Foram selecionados 17 pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec/RJ), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
- Eles analisaram mais de 600 pesquisas nacionais e internacionais sobre educação e selecionaram as 165 mais significativas.
- O principal critério para seleção foi a publicação dos estudos em revistas e periódicos científicos, livros ou a inclusão em dissertações de mestrado e teses de doutorado.
- A partir dos estudos foram criados 25 verbetes que fazem parte do site www.paramelhoraroaprendizado.org.br, mantido pelo movimento Todos pela Educação e pelo Instituto Ayrton Senna.

O levantamento mostra que a seleção de professores não pode ser realizada somente com base em concursos e certificações. Há aspectos que precisam ser considerados (e, em geral, são deixados de lado), como a didática e o nível de aprendizado dos estudantes que precisam ser levados em conta no recrutamento e melhoria da remuneração.

Os pesquisadores afirmam também que, como o desempenho pode variar a cada período, “seria importante que a remuneração desses profissionais levasse em conta não apenas seus atributos e características – tais como ser ou não concursado ou certificado –, mas também o desempenho de seus alunos ao longo do tempo.”

Conselheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que é da qualidade do docente que parte toda a aprendizagem. “O professor é o elemento central, é dele que depende a capacidade não apenas de ensinar, mas de provocar e estimular.”

Outro ponto ressaltado durante o levantamento é a importância do engajamento da comunidade escolar e da família, o que mostra que não são somente fatores objetivos que influenciam este processo. Ramos lembra que, após os resultados do Ideb de 2007, o Unicef fez um levantamento e comprovou que os melhores colégios eram aqueles com alto poder de mobilização.

A infraestrutura e os recursos pedagógicos são fundamentais para o aprendizado, mas o levantamento realizado pelos pesquisadores demonstra que ainda faltam estudos para avaliar os impactos negativos de uma escola sem acesso à rede de esgoto ou quadra poliesportiva, por exemplo.

Consultor da Unesco e professor da Universidade de Brasília (UNB), Célio da Cunha argumenta que a escola precisa de infraestrutura básica para garantir a aprendizagem. “Para incentivar a leitura é preciso uma biblioteca e o estudante precisa também ter acesso a novas tecnologias. Por outro lado, como estudar em uma sala que não tem ventilação adequada?”, questiona.

O levantamento confirmou que questões simples, como dever de casa e atividades extracurriculares, são importantes no aprendizado, embora ainda faltem pesquisas nestas áreas. No caso do dever, por exemplo, a eficiência é ainda maior quando o docente corrige a tarefa.

Pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Evelise Portilho afirma que a aprendizagem não ocorre somente no ambiente formal. Por isso, o dever e outras atividades podem ser decisivos. “Isso auxilia o estudante a buscar outras estratégias e caminhos que vão além da sala de aula.”

Apucarana, no Norte do estado, parece ter encontrado o caminho para garantir o aprendizado mínimo de todos os estudantes da rede pública. Em 2009, a nota do Ideb do município alcançou seis, meta estimada pelo governo federal para o Brasil apenas em 2022. Todos os 10.238 alunos ficam em período integral, projeto que começou a ser implantado em 2001. Os gestores investem 32% da arrecadação em educação, sete pontos porcentuais a mais do que estipula a Constituição.

Claudio Silva, responsável pela autarquia de educação de Apucarana, explica que o resultado mais positivo é a equidade da rede. Hoje 60% das escolas estão na média ou acima de seis, 29% estão a meio ponto da meta e apenas 10% estão um ponto atrás. “É o resultado de muito esforço. Para os professores, o maior ganho é a autoestima.”

Os mais de 150 estudos analisados desmitificam algumas ideias de senso comum sobre a figura do professor, entre elas a relação entre titulação acadêmica e desempenho. Um docente formado nas me lhores universidades traz impactos positivos, mas a mesma correla ção não existe com a conclusão ou não de um mestrado, por exemplo.

Pesquisas mostram que, entre estudantes da mesma escola e vindos de ambientes familiares semelhantes, não há diferença de aprendizado quando o professor tem formação superior ou completou uma pós-graduação. Conse lheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que uma das possibilidades é que há um descompasso entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido para os alunos da educação básica, por isso não há um impacto direto.

Outra hipótese é que as pesquisas existentes não conseguem mensurar a motivação dos docentes. Se um determinado professor tem o magistério como primeira opção certamente será melhor que alguém lecionando por simples falta de alternativa profissional, ainda que este tenha titulação acadêmica maior.

Por fim, uma última alternativa é que estabilidade, segurança e me lhor remuneração oferecidas a quem tem maior titulação possa ter impacto negativo sobre o esforço do professor em sala de aula. “De fato, qualquer privilégio definido segundo o nível educacional, em particular a diferença de remuneração, pode também servir de de sestímulo ao esforço dos professores”, dizem os pesquisadores do Todos pela Educação no documento.

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