Dra. Débora Christina Ribas D'Ávila

Ed. Life Town Cambui, rua dos Alecrins, 914, sala 408 , fone (19)99478-6060, Campinas, São Paulo, Brazil

27/10/2011

Detido aos 3 anos

Uma criança de 3 anos de idade foi parar na delegacia após brigar com a professora em uma creche particular localizada no Centro de Piracicaba, no interior de São Paulo. A educadora acionou a Guarda Municipal para conter o aluno que a agrediu com um chute, além de ter dado um soco em um vidro da sala.

A avó da criança reclama da maneira como o neto foi tratado. "Cheguei aqui e vi uma criança de 3 anos sendo tratado como se fosse um bandido, com três guardas municipais em volta da cadeira em que ele estava sentado."

'Quero uma resposta', diz mãe de menino "Precisava ter chamado a GM e ter feito tudo isso? É uma criança", questiona.

Além do garoto, da avó e da mãe dele, foram para a delegacia a professora envolvida, a diretora e a assistente social da creche. O boletim de ocorrência foi registrado como ocorrência não criminal na Delegacia de Defesa da Mulher. Uma cópia do registro será encaminhada para o Conselho Tutelar e para a Vara da Infância. A diretora da creche e a professora não quiseram dar entrevistas.

02/10/2011

ENTREVISTAS TV








11/09/2011

Revista Veja: Mudanças na Licença-Maternidade

1. Como funciona a licença-maternidade hoje?

Segundo a Constituição Federal, a funcionária contratada com carteira assinada tem direito a 120 dias de licença para cuidar do filho logo depois do parto. Durante esse período, ela não pode exercer atividade remunerada, pois continua recebendo o salário integral, pago pela Previdência Social. O direito também vale para todas as mulheres que adotam crianças. Nestes casos, porém, seu período de licença varia de 30 a 120 dias, dependendo da idade do filho adotado.

2. O que vai mudar com a nova lei?

O projeto de lei, que já foi aprovado no Congresso, cria a possibilidade de prorrogar por mais 60 dias o prazo da licença, totalizando seis meses. A mãe continuará a receber integralmente o salário, sendo que os 120 primeiros dias serão pagos pela Previdência Social e os outros 60, pela empresa onde ela trabalha. A prorrogação da licença-maternidade também vale em caso de adoção.

3. Todas as mulheres serão beneficiadas?

Não. A nova lei valerá apenas para as funcionárias de empresas privadas e para as funcionárias públicas federais. No caso da iniciativa privada, é necessário que o empregador faça a adesão ao Programa Empresa Cidadã para que a funcionária possa pedir a prorrogação de sua licença-maternidade. O pedido para ter os dois meses extras deve ser feito no primeiro mês após o parto. Assim como nos 120 dias previstos na Constituição, a mãe não pode exercer outra atividade remunerada nem colocar a criança em uma creche. Trabalhadoras autônomas e empregadas domésticas não terão direito aos 60 dias adicionais.

4. Todas as empresas são obrigadas a ampliar a licença?

Não. A prorrogação é facultativa e a empresa disposta a conceder o benefício tem que se cadastrar no Programa Empresa Cidadã.

5. O que as empresas ganham para ampliar o tempo da licença?

O empresário que aderir ao programa poderá deduzir integralmente do Imposto de Renda Pessoa Jurídica a remuneração da funcionária referente aos dois meses de ampliação da licença. Além disso, não vão incidir os impostos patronal, de 20%, nem o Seguro Social (INSS) sobre o valor bruto do salário.

6. Qual é o objetivo dessa mudança na lei?

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a ampliação da licença-maternidade pode trazer melhorias tanto para a saúde do bebê como para a da mãe, que têm mais tempo para ampliar seus vínculos afetivos. Além disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) orienta que o aleitamento materno ocorra por pelo menos seis meses, o que ajuda a reduzir o risco de desenvolvimento de tumores de mama e de ovário e também evita a obesidade pós-parto. Segundo o presidente Lula, os gastos com a ampliação da licença também serão compensados pela redução dos custos com a saúde infantil, uma vez que as crianças serão mais saudáveis.

7. Existe algum aspecto negativo?

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a medida pode trazer mais encargos para algumas empresas. Assim, na hora de decidir a contratação, o empregador pode começar a evitar mulheres que ainda possam ter filhos. Segundo Ana Paula Luchesi, assessora jurídica da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), o custo que a empresa pequena terá de absorver com a ausência de uma funcionária experiente será muito alto, mesmo com alívio fiscal.

8. A nova lei vai afetar os cofres públicos?

Sim. Segundo cálculos do Ministério da Fazenda, a renúncia fiscal será de 800 milhões de reais por ano e esse valor terá que ser incluído no Orçamento. A estimativa inicial da autora do projeto era de que o governo teria que arcar com 500 milhões de reais. Hoje, a licença de quatro meses é custeada pela Previdência Social, que gasta anualmente 2,1 bilhões de reais.

9. Quando a nova regra entra em vigor?

No setor privado, o novo prazo da licença deverá entrar em vigor apenas em 2010. Isso porque os custos da implantação deverão estar previstos no Orçamento e não haveria tempo hábil para alterar as verbas previstas para 2009. Para as servidoras públicas federais, a medida entra em vigor assim que o presidente Lula sancionar e publicar a lei no Diário Oficial da União.

10. Há algum caso no país em que a licença supera 120 dias?

Sim. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, 93 municípios e 10 estados já permitem que as servidoras públicas desfrutem de seis meses de licença. Os estados são: Alagoas, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia e São Paulo. Nesses casos, o benefício maior foi aprovado na Assembléia Legislativa de cada estado e sancionado pelos respectivos governadores. No caso das servidoras municipais, a lei precisa ser aprovada pela Câmara de Vereadores e sancionada pelo prefeito.

11. Como funciona em outros países?

A licença-maternidade é um benefício reconhecido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) desde 1921. O período de licença e a remuneração para as mães trabalhadoras varia em cada país. Na Argentina, por exemplo, a licença é de doze semanas, com remuneração. Já nos Estados Unidos a licença é por três meses, mas as trabalhadoras não são remuneradas durante o período. A Austrália também não tem pagamento, mas o período que a mãe pode ficar afastada é de 13 meses.

Revista Veja: Paulistanas criam site para ajudar na maternidade

Isabella Villalba
20/10/2010

A jornalista Daniela Buono, 36 anos, trabalhou como produtora, roteirista e diretora de vídeos e programas de TV por mais de dez anos. Sua rotina era irregular e, quando engravidou de Clara, em 2004, ela tentou conciliar emprego e maternidade. Mas o nascimento da segunda filha, Bebel, hoje com 2 anos, tornou a tarefa impossível e a vida profissional perdeu espaço. A carreira de Kátia Raele, 35, também mudou de rumo com a chegada de Gabriela, em 2007. A advogada sugeriu à empresa trabalhar em casa após o fim da licença, mas a proposta não foi aceita e ela se demitiu. Hoje tem mais uma filha, Mariana, de 8 meses. Ambas se conheceram por intermédio da violista Roberta Marcinkowski, 37, outra mãe, que, antes da gravidez de Júlia, 4, se desdobrava em ensaios e apresentações da Orquestra Sinfônica Municipal e da Jazz Sinfônica, além de dar aulas.

Em busca de uma fórmula para aliar trabalho e família, o trio criou o Companhia das Mães (www.ciadasmaes.com.br), site que reúne produtos para gestantes e crianças de até 6 anos, além de funcionar como uma espécie de rede social para futuras empreendedoras, com troca de informações e consultoria para as que desejam se aventurar no mundo dos negócios. Em versão de teste há seis meses, essa ferramenta é mais utilizada pelo público na faixa dos 30 anos. A última pesquisa Global Entrepreneurship Monitor — que mede níveis de empreendedorismo em vários países —, divulgada pelo Sebrae em abril, aponta que as mulheres representam 53% dos 18,8 milhões de brasileiros à frente de empresas em estágio inicial ou com menos de três anos e meio de existência.

O site tem uma área com 2 000 artigos à venda, resultado da parceria com outras 63 mulheres-empresárias. Também é possível encontrar dicas de serviços e bazares para trocar roupas e acessórios que os pequenos não usam mais. “Estamos usando a tecnologia a nosso favor”, afirma Daniela. Hoje, as três trabalham bem mais que há dois anos, quando surgiram as primeiras ideias para o site. “Enquanto uma dorme, a outra responde aos e-mails, e cada uma faz sua parte para tudo dar certo”, conta a jornalista. Engana-se quem acredita que a meta principal é a felicidade da criançada. “Na verdade, nossa busca é por uma vida melhor para as mães”, esclarece Kátia. Como é natural, a maternidade deixou todas mais flexíveis, empilhando tarefas e funções. “Somos contorcionistas”, brinca Roberta.

07/09/2011

Medo de Ser Mãe

Quando a mulher pensa em ser mãe pela 1* vez ela passa a pensar em inúmeras situações que “acontecerão” em sua vida. Como o bebê ainda não existe (não nasceu) passa a “imaginar” situações.


Algumas mulheres idealizam um filho, imaginando que ele nascerá igualzinho ao que elas imaginam – lindos, inteligentes, companheiros, educados, e que crescerão sempre satisfazendo todas as necessidades ou expectativas da mãe. Inclusive fazendo escolhas profissionais que a agradem!

A própria gestação pode ser idealizada como um momento em que a futura mamãe será muito bem tratada por quem a cerca, e até favorecerá a “aproximação” com o companheiro.

Porém, também existem as “fantasias” ruins com relação à gestação – e a mulher pode passar a enfrentar medos.

Os medos mais comuns de uma mulher, principalmente as que ainda não têm filhos, são:

Medo de não ser uma boa mãe,

Medo de não conseguir cuidar, alimentar, saber “decifrar” o significado do choro

Medo de que o filho passe por um sofrimento que ela já passou

Medo que o filho tenha alguma doença ou necessidade que ela não consiga atender

Não poder mais viajar, estudar e crescer na profissão

Medo que dificuldades financeira impossibilitem o filho ter tudo o que deseja/necessita

Não ter ao lado um homem que considere o ideal para ser pai

Medo da deformação física de seu corpo na gravidez

Medo de ser abandonada pelo companheiro

Medo de perder a própria identidade

Medo de não conseguir amamentar

Medo de se arrepender

Medo do parto

Esses medos são naturais e, normalmente, são maiores que os problemas "reais". Quando pensamos em todos os prováveis problemas de uma gravidez ou de ser mãe não contamos com um fator: o amor, a realização, a alegria de ver um filho aprender coisas novas a cada dia, tudo isso nos dá ânimo, força e, por consequencia, diminui o impacto dos fatores negativos

Não há como prever o que acontecerá! É preciso viver e experimentar para saber.

06/09/2011

Depressão Pós-Parto

A depressão pós-parto é um distúrbio emocional comum, podendo ser considerada uma reação esperada no período pós-parto imediato e que geralmente ocorre na primeira semana depois do nascimento da criança. Entre 50% a 80% de todas as mulheres apresentarão reações emocionais. 10% apresentam a sua forma mais severa.

Existem alterações de comportamento consideradas normais após o parto ou todas elas são “patológicas”?

O nascimento de um filho, principalmente o primogênito, traz grandes mudanças na vida de uma nova mamãe. Ela pode tornar-se cheia de energia, falante, e parecer tão disposta, auto-suficiente, como se não precisasse de ajuda externa. Ou a puérpera pode apresentar um profundo retraimento, necessidade de isolamento, principalmente se há uma quebra muito grande do que esperava, tanto em relação ao bebê idealizado quanto a si própria como figura materna, fazendo com que a puérpera sinta-se mais carente e dependente de proteção. A sensação predominante neste caso, é de sentir-se apenas a serviço do bebê, como se nunca mais fosse recuperar sua vida pessoal.

Meu filho nasceu há poucos dias, estou me sentindo muito triste e incapaz de cuidar dele, isto é normal?


Os sintomas como esse acompanhados de crises de choro, fadiga, humor deprimido, irritabilidade, ansiedade, confusão e lapsos curtos de memória são normais e se resolvem espontaneamente em até seis meses. A melhor maneira de ajudar é deixar a nova mãe falar de seus sentimentos, enfatizando a normalidade da sua alteração.

Quais fatores podem desencarear depressão pós-parto?

Fatores biológicos

São os resultantes da grande variação nos níveis de hormônios sexuais (estrogênio e progesterona) circulantes e de uma alteração no metabolismo das catecolaminas causando alteração no humor, podendo contribuir para a instalação do quadro depressivo.

Fatores psicológicos

São os originados de sentimentos conflituosos da mulher em relação:
a si mesma, como mãe
ao bebê
ao companheiro
a si mesma, como filha de sua própria mãe

Condições do parto – trabalhos de partos complicados, demorados, ou sem a assistência adequada

Situação social e familiar da mulher - relação entre o suporte social principalmente do parceiro e família, do planejamento da gravidez, de problemas de saúde da criança, dificuldade em voltar ao trabalho, dificuldade sócio-econômica e estado civil com a presença e gravidade da depressão.

Sintomas

Tristeza
Desesperança
Baixa auto-estima
Culpa
AnedoniaDistúrbios de sono
Distúrbios na alimentação
Cansaço e falta de energia
Desinteresse sexual
Aumento na ansiedade
Irritabilidade
Sentimento de incompetência
Isolamento social

O que é Psicose Puerperal e Síndrome Depressiva ?

São quadros depressivos que também ocorrem no período do pós-parto.

Na Psicose Puerperal, os sintomas aparecem nos três primeiros meses pós-parto e são mais intensos e duradouros, com episódios psicóticos, necessitando acompanhamento psiquiátrico e internação hospitalar. A mulher tem o delírio de que seu bebê é um ser "mau" e quer destruí-la, deixando de cuidar dele.

Depressão Grave: distúrbio do sono, modificação do apetite, fadiga, culpa excessiva e pensamentos suicidas. O tratamento deve ser psicológico e medicamentoso, pois os sintomas podem persistir por até um ano e impossibilitam a mãe de cuidar adequadamente do bebê.

Homens podem ter depressão pós-parto?


Sim, 25,5% dos pais sofrem sintomas depressivos, porém esses sintomas são mais leves que os das mulheres.

A depressão masculina tem origem nos sentimentos de exclusão diante da relação mãe-bebê. É como se ele se percebesse apenas como uma pessoa provedora que deve trabalhar e satisfazer as exigências impostas pelo puerpério da mulher. Muitas vezes encontra saída para suas ansiedades no ambiente externo ao lar. Daí o aumento das atividades e carga horária no trabalho, relações extra-conjugais ou mesmo somatizações com ocorrências de doenças para poder também chamar atenção sobre si.

Quando a depressão pós-parto deve ser tratada com medicamentos?

Quando há rejeição total ao bebê, sentindo-se completamente aterrorizada e ameaçada por ele, como se fosse um inimigo. A mulher sente-se apática, abandona os próprios hábitos de higiene e cuidados pessoais. Pode sofrer de insônia, inapetência, apresenta idéias de perseguição, como se alguém viesse roubar-lhe o bebê ou fazer-lhe algum mal. Se a puérpera estiver neste quadro de profunda depressão, sem poder oferecer a seu filho o acolhimento necessário, este também entrará em depressão. As características apresentadas são: falta de brilho no olhar, dificuldade de sorrir, diminuição do apetite, vômito, diarréia e dificuldade em manifestar interesse pelo que quer que esteja ao seu redor. Conseqüentemente, haverá uma tendência maior em adoecer ou apresentar problemas na pele, mesmo que esteja sendo cuidado.Se há bloqueio materno em manifestar amor pelo filho, alguém deve assumir a tarefa de maternagem para que o bebê possa sentir-se amado e acolhido, pois sem amor não desenvolverá a capacidade de confiar em suas próprias possibilidades de desenvolvimento físico e emocional. Neste caso, o psiquiatra deve ser consultado urgentemente e, simultaneamente ao apoio farmacológico, será aconselhada a psicoterapia.

Os medicamentos podem ser usados durante o aleitamento materno?


Pode ser tratada com anti-depressivos , mas eles passam para o leite materno. Logo a psicoterapia é o tratamento mais recomendado. Uma alimentação adequada, rica em Omega 3 e sais minerais, e exercícios também são importantes para melhorar o humor e a saúde em geral.

Outros filhos podem agravar a sensação de impotencia da mãe em relação aos cuidados com os filhos?

No caso de já existirem outros filhos, estes também sofrerão impactos emocionais, com a ausência da mãe e o medo de perder seu amor em prol do novo membro da família. O modo como demonstrarão tais sentimentos vão desde a regressão, quando solicitam novamente o uso da chupeta, apresentam transtornos do sono, inapetência, voltam a molhar a cama, até mesmo a negação da própria mãe, como se não precisassem mais de seu amor e cuidados. Neste momento, vinculam-se mais fortemente com o pai ou com a pessoa que as está atendendo, fortalecendo na figura materna o sentido de incapacidade, de não conseguir realmente dar conta das antigas e novas responsabilidades, concomitantemente.

Como a família e os amigos podem ajudar a mamãe a sair da Depressão Pós-Parto?

Se a família e os amigos colaborarem de modo satisfatório, proporcionando confiança e segurança à puérpera, principalmente no tocante às atividades maternas, sem críticas e hostilidades, mas com compreensão e carinho, acolhendo-a nos momentos de maior fragilidade emocional, a depressão pós-parto vai diminuindo de intensidade até se transformar em carinho pelo bebê e respeito pelo ritmo de seu desenvolvimento e progresso.

O aumento da incidência de depressão pós-parto pode ter relação com a "vida moderna"?

Até alguns anos atrás, quando as famílias eram mais numerosas, era comum o filho mais velho cuidar do mais novo e, desta forma, quando tinham seus próprios filhos, sentiam-se mais capacitados e seguros em assumi-los. Era comum que a nova mamãe contasse com o apoio e orientações de sua própria mãe, Hoje em dia, é mais difícil passar por esta experiência, já que todos na família saem para trabalhar muito cedo e o número de filhos ter diminuído consideravelmente. Para suprir tal carência de aprendizagem, algumas maternidades estão implementando o sistema de alojamento conjunto, para que possa proporcionar à gestante a experiência real e supervisionada com seu bebê, o que facilitará a formação do vínculo precoce entre eles.

A ausência de um adequado suporte familiar pode propiciar o aparecimento da Depressão Pós-Parto?

Sim. A maior incidência de Depressão Pós-parto em pacientes que experimentam dificuldades adaptativas à gestação, como por exemplo, nos casos de gravidez não desejada, gravidez contrária à vontade do pai, situação civil irregular, gravidez repudiada por familiares, carência social e outros fatores capazes de desestabilizar emocionalmente a relação entre a paciente e sua gravidez.

Como o omega3 pode evitar a depressão pós-parto?


O ômega 3 é fundamental para a constituição do cérebro e manutenção do seu equilíbrio, é por isso que essas gorduras são a principal nutrição que o feto recebe pela placenta. É também por isso que as "reservas" da mãe que já são baixas na dieta ocidental caem de forma dramática nas últimas semanas da gravidez e continuam diminuindo durante a amamentação, o que aumenta o risco da depressão pós-parto. Mães precisam de ômega 3 para si e para o bebê!

07/08/2011

Os Mitos da Infância guardam o Roteiro da Perfeição - Suely Monteiro

      Estamos sentados na beira da estrada, sem rumo, entre muitas opções, pois não temos lembranças de nosso roteiro de viagem que ficou perdido, lá atrás, num tempo diferente do contado cronologicamente; tempo em que o tempo não existia como agora, e que a fantasia gerava tantos seres extraordinários quanto a nossa capacidade de imaginá-los e conviver com eles.

      Perdemos nosso roteiro e com ele, na mesma sacola, ficou o doce encanto da fantasia que tornava nossa jornada mais bela, mais agradável, mais assertiva e, sobretudo não nos deixava perder a consciência do ser que éramos.

      Distanciados da história de nossa origem, não sabemos quem somos e, claro, nem para onde vamos. Fingimos acreditar que estamos no caminho certo. No entanto, nossos mergulhos nas sensações, nas emoções de superfície, nas muitas roupagens exageradamente descompostas, mostram somente o quanto fomos enganados pelo orgulho, pela vaidade e pela presunção de acreditar saber mais do que de fato sabíamos.

      Elevamos a mais alta hierarquia um conjunto de pressupostos mal examinados que nos tornavam capazes de realizar inventos grandes, mas de maus sortilégios que nos afastavam cada vez mais do nosso centro a que nos dirigíamos.

      Fomos ficando atrás do ser que éramos.

      Fomos perdendo a elegância de fazer grandes versos que nos tornavam o centro das atenções dos corações. Voltamos nossa face para o cérebro e com ele realizamos grandes obras que, no entanto, não servem para nos colocar de volta ao nosso caminho.

      Encontramos o desespero, a dor, a desconfiança, o medo e a solidão muitas vezes disfarçados para nos enganar. Vezes sem conta caímos em suas pérfidas armadilhas, entregando-lhes os poucos recursos que nossa alma ainda possuía. Mas a vida seguindo seu curso, nos seus fluxos nos arrastou até que um dia, cansados, machucados, humilhados, nos vimos sem outra opção a não ser deixar o coração voar e com ele seguir por sobre os montes, montanhas e florestas, numa estrada, aparentemente sem fim.

      Depositados ali, sentados, depauperados, nos demos conta de que havíamos nos afastado do roteiro porque havíamos negado nossa origem e negar a origem é perder a caminhada.

      Nossa saída, é encontrar entre as várias opções, a serenidade para, da maneira mais delicada possível, desobrigar-nos dos compromissos com o fútil e obsoleto, voltarmos as costas para as tiranias do poder e do ter, e, finalmente, reconhecer, em meio a eloqüência da sinfonia do silêncio, a fantasia que brota dos lábios da criança, as canções dos amantes, as pedras do caminho, as flores da estrada, as dores sofridas e compensadas, que o mapa do caminho tão ardentemente procurado estava guardado nos mitos da infância.

      Feito isso, nenhum encantamento nos livrará de retomar o caminho que nos conduzirá à Perfeição.

03/08/2011

OLHA O OLHO DA MENINA http://ipanema.com/livros/olha/cover.htm

texto de Marisa Prado
ilustrado por ZIRALDO


Menina crescia escutando
que não adiantava mentir
porque mãe sempre sabia

Mãe dizia
que lia na testa da Menina,
e que só Mãe
sabia ler testa.

Menina tentava
tapar a testa com a mão
na hora de mentir.
Mãe achava graça. Muita graça.
E continuava lendo assim mesmo.

Menina precisava entender
como essa coisa misteriosa acontecia.
No espelho do banheiro,
mentia muito em silêncio.
E na testa, nada escrito!

Aí, Menina descobriu
que Mãe também mentia.
E que então não era testa
- era o olho, com um brilho diferente -
que entregava a mentira.

Menina então tentava
fechar o olho com força,
para esconder a Mentira.
Mas nem isso resolvia,
pois Mãe sempre adivinhava.

Menina tinha era que aprender
a fingir de olho aberto
que mentira era verdade.
Menina tentou, tentou...
e aprendeu.
Era essa a solução.

Mas de noite
Menina ficava apertada por dentro.
Assim meio sufocada,
não podia nem piscar.
Com o olho muito aberto,
não conseguia dormir.

Faltava ar pra Menina.
Igual quando a gente fica
quase sem respirar
rindo de uma cosquinha.
Só que não tinha graça.

Menina - sem querer -
tinha descoberto a Consciência,
uma coisa que toma conta da gente
mesmo quando Mãe
não está lendo testa,
nem adivinhando olho.

Menina tinha aprendido
que ter que fingir doía.
E que desse jeito
ia ficar muito sem graça
ser gente grande.
Menina desistiu de crescer.

Mas não adiantava.
Menina via que agora
já estava quase da altura
do móvel da sala da vovó.
E ficava muito triste,
o aperto apertando mais.

E de tanto que o aperto apertava,
Menina achou que fingir
só podia doer tanto
porque era dor sozinha.

Menina teve uma idéia,
e ainda não sabia
se era idéia brilhante.
Mas sabia - isso sim -
que precisava testar,
pra conseguir descobrir

A idéia da Menina
foi dizer para Mãe
que era difícil fingir.
Menina achava ruim
aprender montes de coisas
sem dividir com ninguém.

Menina falou pra Mãe
que era muito complicado
e que não era nada bom
ter que crescer sozinha.

Mãe abraçou
muito apertado a Menina.
E no colo tão esperado
Menina estava sendo mãe da Mãe.

Menina sentiu
que Mãe estava chorando.
E que Mãe
ainda não tinha aprendido tudo.

Mãe não falava nada
Mas uma e outra sabiam
naquele abraço apertado
que em Mãe também doía
ser gente grande sozinha.

Nessa hora
Menina entendeu tudinho.
Descobriu que só carinho
é que espanta a solidão.
E que dor, se dividida,
fica dor menos doída.

E que aí,
dá até vontade
de continuar a crescer
pra descobrir
o resto das coisas.

02/08/2011

A GENÉTICA DA RAIVA

Cientistas investigam a influência dos genes no modo como cada um manifesta o sentimento e apontam de que forma o seu controle ajuda as pessoas a ter uma vida mais saudável
ISTOÉ - Rachel Costa

O aborrecimento de ficar preso no trânsito ou ter o voo cancelado são justificativas comuns de quem perde a cabeça e tem ataques de raiva. A origem do mal, porém, pode estar além desses eventos corriqueiros. Para uma nova linha de estudos, a raiz da raiva está nos genes: alterações genéticas afetariam circuitos hormonais do organismo, fazendo alguns responderem de forma mais violenta do que outros aos problemas do dia a dia. Dessa maneira, a dificuldade em controlar o sentimento não deveria ser interpretada como resultado de uma personalidade moldada apenas por fatores ambientais e psicológicos.

O peso da genética na forma como cada um processa a raiva vem sendo objeto de pesquisa e está discutido, por exemplo, em um trabalho da Universidade de Pittsburgh (EUA). Após a observação de 550 mulheres, provou-se que alterações em um gene relacionado ao funcionamento dos receptores de serotonina afetavam o modo como as voluntárias expressam a emoção. Esses receptores são “fechaduras” presentes na membrana dos neurônios. Eles permitem a entrada, nas células, da serotonina, substância envolvida no processamento das emoções. “Problemas na sua produção ou absorção estão associados a emoções negativas, como a raiva e a depressão, além de comportamento agressivo e impulsivo”, diz o neurologista Alexandre Ghelman, especialista em gestão do estresse e da raiva, do Rio de Janeiro.

A informação poderá servir para a criação de um teste para apontar indivíduos mais predispostos ao sentimento. Identificá-los é uma preocupação pertinente. É consenso que a raiva está associada a diversas doenças, entre elas as cardíacas. Uma revisão de 43 estudos realizada pela University College de Londres, por exemplo, mostrou que quem é mais explosivo possui entre 19% e 24% mais chances de ter doença coronariana. O dado preocupa ainda mais quando cruzado com outro, do Serviço de Saúde Pública dos EUA: 60% dos 1,8 mil entrevistados admitiram ter sentido raiva pelo menos uma vez na semana anterior à enquete. “A raiva é um sentimento popular e incentivado na sociedade moderna”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil. Porém, a especialista alerta que não se pode banalizar os comportamentos de raiva excessiva. “É preciso identificá-los e tratá-los.”

AÇÃO

Nem tudo, entretanto, é negativo quando o assunto é raiva. Quando bem controlada, essa emoção é instrumento de autopreservação. “Ela gera força e energia, que podem ser usadas como combustível para se defender de uma injustiça ou de um abuso”, diz a psicóloga Marilda Novaes Lipp, da PUC-Campinas, especialista no tratamento da raiva. O importante é não exacerbar o sentimento nem retê-lo. “Sofrer em silêncio também causa alterações psicofisiológicas”, alerta o médico Renato Alarcon, da Clínica Mayo (EUA).

Manter o controle é útil, inclusive, para ajudar na recuperação de pacientes, de acordo com estudo da Universidade de Ohio (EUA). Entre os 98 voluntários, quem sabia regular melhor a emoção apresentava menores índices de cortisol, hormônio liberado em situações de estresse. Quanto menor sua quantidade, mais rápida a recuperação. “Isso mostra que terapias de controle da raiva podem ajudar o paciente a se recuperar”, disse à ISTOÉ Jean-Philip-pe Gouin, líder do estudo.

Sem contar que mais controle sobre a raiva permite uma vida mais tranquila. Foi o que aprendeu a empresária Maria da Silva, 54 anos. Quando ela estourava, sobrava para marido, funcionários e para o próprio corpo – ela, que é hipertensa, sofria com subidas repentinas da pressão arterial. “Depois que aprendi a controlar a raiva, vi que tinha de ponderar o que falava.” Está aí o segredo: o melhor, antes de tomar uma atitude impulsiva, é inspirar, expirar e avaliar se é mesmo necessário se incomodar com o que aconteceu.

Semana da Amamentação - Sociedade Brasileira de Pediatria

A SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA: AÇÕES E CONQUISTAS EM


ALEITAMENTO MATERNO


Departamento Científico de Aleitamento Materno*

* Elsa Regina Justo Giugliani (presidente) – RS; Roberto Diniz Vinagre (Vicepresidente)

– MT; Lucia Marina Abrantes Gueiros Samu (secretária) – ES; Carmen

silvia Martimbianco de Figueiredo – MS; Dione Alencar Simons – AL; Dolores

Fernandez Fernandez (BA); Feliciana Santos Pinheiro – MA; Hamilton Henrique

Robledo – SP; Hugo Issler – SP; José Dias Rego – RJ; Keyko Miyasaki Teruya –

SP; Sonia Maria Salviano Matos de Alencar - DF

Apesar de a espécie humana, por ter evoluído e se mantido 99,9% da sua

existência na terra amamentando os seus descendentes, estar geneticamente

programada para receber os benefícios do leite materno e do ato de amamentar, o

aleitamento materno deixou de ser um ato universal por influências socioculturais.

No século XX, em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, houve um dramático

declínio das taxas de aleitamento materno até as décadas de 60 e 70, com tristes

implicações - desnutrição e alta mortalidade infantil em áreas menos

desenvolvidas. As conseqüências a longo prazo são ainda desconhecidas, pois

transformações genéticas não ocorrem com a rapidez de mudanças culturais.

Na década de 70, deu-se início ao movimento global de resgate à “cultura da

amamentação”, em resposta às denúncias contra o uso disseminado de leites

artificiais e ao surgimento de inúmeros trabalhos científicos mostrando a

superioridade do leite materno como fonte de alimento, de proteção contra

doenças e de afeto. As taxas de aleitamento materno no Brasil aumentaram

consideravelmente nas décadas de 80 e 90, em resposta a diversas ações de

promoção do aleitamento materno em todo o País. A mediana da duração do

aleitamento materno, que era de apenas 2,5 meses em 1975, passou a ser de 5,5

meses em 1989 e de 7 meses em 1996. A última pesquisa em nível nacional

realizada nas capitais brasileiras indicou uma mediana de duração de aleitamento

materno de 10 meses.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), através do Departamento Científico de

Aleitamento Materno, ex-Comitê de Aleitamento Materno, sempre esteve engajada

no movimento de resgate do aleitamento natural. Já no final dos anos 60, portanto

mais de uma década antes da implementação do Programa Nacional de Incentivo

ao Aleitamento Materno (PNIAM), em 1981, a SBP reuniu um pequeno grupo de

pediatras preocupados com as práticas alimentares das crianças pequenas da

época. Como resultado, foram publicadas as primeiras recomendações sobre

amamentação no Jornal de Pediatria.

A SBP e o aleitamento materno: retrospectiva

O Departamento Científico de Aleitamento Materno da SBP foi criado em 1980,

portanto nos primórdios do movimento de resgate à amamentação, com o nome

de Grupo de Incentivo ao Aleitamento Materno. Oficialmente o grupo era

composto por apenas 2 membros: o coordenador nacional (Dr. José Martins Filho)

e o coordenador para o Rio de Janeiro (Dr. José Dias Rego). Em 1982, o Grupo

de Incentivo ao Aleitamento Materno passa a se chamar Comitê de Aleitamento

Materno, sob a coordenação nacional do Dr. José Dias Rego. Em 1984, esse

Comitê, agora Comitê Científico de Aleitamento Materno, é ampliado, fazendo

parte dele 34 membros representando 18 estados, ainda sob a mesma

coordenação.

Na gestão 1986-1988 o Comitê Científico de Aleitamento Materno foi extinto, para

ser reativado em 1988 com 15 membros e sob a coordenação do incansável Dr.

Dias Rego. Em 1992, o número de membros do Comitê é reduzido a 12, agora

sob a coordenação da Dra. Vilneide Braga, de Pernambuco. O Dr. Joel Alves

Lamounier, de Minas Gerais, assume a presidência do Comitê de 1994 a 1998. É

nesse período que o Comitê Científico de Aleitamento Materno passa a se chamar

Departamento Científico de Aleitamento Materno. Junto com a mudança do nome

houve uma reformulação do regulamento de todos os Departamentos da SBP, que

passaram a ter as seguintes finalidades: promover estudos; normatizar; promover

reuniões, encontros, cursos; e assessorar a diretoria da SBP em assuntos da

abrangência dos Departamentos. Houve uma mudança na constituição dos

Departamentos, que passaram a ter um Núcleo Gerencial (presidente, vicepresidente

e secretário), um Conselho Científico formado por no máximo 11

membros e um Grupo de Membros Participantes, composto por um número

ilimitado de sócios da SBP. Os membros do Núcleo Gerencial e do Conselho

Científico não podem permanecer no Departamento por mais que duas gestões

sucessivas. Sendo assim, o Dr. Joel Lamonier, em 1988, foi substituído na

presidência do Departamento de Aleitamento Materno pela Dra. Sonia Maria

Salviano Matos de Alencar, do Distrito Federal, que permaneceu no cargo até

março de 2001. Desde então, a presidência vem sendo desempenhada pela Dra.

Elsa Regina Justo Giugliani, do Rio Grande do Sul.

Ações e conquistas

A SBP há mais de 3 décadas vêm se engajando no movimento pró-amamentação

no Brasil, sendo um dos pioneiros. Seria impossível relatar todas as ações e

conquistas na área de aleitamento materno, em parte pelo grande número de

ações e em parte por dificuldade em localizar os registros de todas as atividades.

Ao trabalho do Departamento Científico da SBP somam-se os trabalhos das

filiadas regionais. A seguir serão listadas algumas ações e conquistas do

Departamento Científico de Aleitamento Materno ao longo do tempo:

Apoio da SBP e participação ativa dos membros do Departamento Científico

de Aleitamento Materno em diversos eventos: encontros, cursos,

seminários, congressos, etc.;

1982-1984 – intensa mobilização de profissionais em todo o País, através das

filiadas nos estados;

1984-1985 - participação no Grupo Técnico Executivo de Incentivo ao Aleitamento

Materno do Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, opinando nas

campanhas de incentivo ao aleitamento materno, na elaboração das normas de

alimentos para o desmame e da Norma Brasileira para Comercialização de

Alimentos para Lactentes, nas recomendações técnicas para o funcionamento dos

Bancos de Leite Humano, entre outros;,br>

1985– “Prêmio Zezinho Amigo do Peito” – em homenagem aos Drs. José Martins

Filho e José Dias Rego - para o melhor trabalho científico sobre aleitamento

materno apresentado no XXIV Congresso Brasileiro de Pediatria, em Fortaleza;

1986-1987– Campanha “Aleitamento Materno, Parto Normal: atos de amor” ,

motivada pelo fato de o Brasil ser campeão mundial de cesarianas;

1988 – “Prêmio Criança e Paz” conferido pelo UNICEF à SBP pelo destaque na

luta em defesa dos direitos da criança e do adolescente;

1992-1994 – Apoio à campanha Hospitais Amigo da Criança;

1998-2001

1-Atuação importante na “Semana Mundial da Amamentação”, atualmente

celebrada entre 1 e 7 de outubro. Todos os anos a SBP convida uma mulher de

expressão que esteja amamentando para ser a madrinha do Departamento

Científico de Aleitamento Materno. Em 1999 a escolhida foi Luiza Brunet, em 2000

Glória Pires e em 2001 Isabel Filardis. As madrinhas pousam amamentando para

a confecção folders e de cartazes que são distribuídos em todo o Brasil através

das filiadas;

2-Integração entre SBP e a Área de Saúde da Criança da Secretaria de Políticas

de Saúde do Ministério da Saúde nas seguintes ações, entre outras: Iniciativa

Hospital Amigo da Criança, Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos

para Lactentes, Método Mãe Canguru, Semana Mundial da Amamentação, Projeto

Carteiro Amigo e Projeto de Expansão da Rede de Bancos de Leite Humano;

3-Representação na Comissão Nacional de Bancos de Leite Humano do Ministério

da Saúde;

4-1999 - Concurso de Monografias sobre Aleitamento Materno entre os médicos

em processo de especialização em pediatria;

5-1999 - Concurso de Fotografia de Mulheres Amamentando para pediatras,

sócios da SBP;

6-1998 – Diploma entregue ao presidente da SBP pelo Ministério da Saúde como

reconhecimento aos esforços empreendidos pela SPB em prol da saúde das

crianças, e em especial em prol da amamentação;

7-2000 - Homenagem do representante do Ministério da Saúde ao presidente da

SBP, Dr. Lincoln Freire, na abertura I Congresso Internacional de Bancos de Leite

Humano, em Natal, pelos trabalhos desenvolvidos pela SBP na área de

aleitamento materno.

Em outubro de 2001, os membros do Departamento Científico de Aleitamento

Materno se reuniram no Rio de Janeiro para, entre outras coisas, elaborar um

plano de ação para a gestão 2001-2004. As metas para 2002 são:

1)Criação do Curso Itinerante de Atualização em Aleitamento Materno para

Pediatras, que deverá ser oferecido em todos os estados, através das filiadas da

SBP;

2)Resgate do Projeto Título de Especialista em Aleitamento Materno;

3)Elaboração de vídeo sobre aleitamento materno para sala de espera de clínicas

e consultórios, que poderá ser adquirido pelos pediatras sócios da SBP;

4)Elaboração de Folder sobre aleitamento materno dirigido às mães, que poderão

ser adquiridos pelos pediatras sócios da SBP e distribuídos entre a sua clientela;

5)Canal de comunicação direta com os pediatras e o público em geral através do

site da SBP.

A SBP tem uma tarefa social da mais alta relevância: a de promover a saúde da

criança brasileira. E neste contexto assume lugar de destaque a promoção, a

proteção e o apoio à amamentação. Muitas ações pró-amamentação e conquistas

vêm sendo vivenciadas ao longo dos últimos 30 anos. Há muito o que fazer ainda.

Precisamos envolver o maior número de pediatras neste movimento crescente de

conscientização da importância do aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6

meses de vida e complementado até os 2 anos ou mais. Precisamos continuar

trabalhando em prol da universalização da prática do aleitamento materno.

Referências Bibliográficas:

Alencar SMSM, Dias Rego J. As Sociedades Médicas e o incentivo ao aleitamento

materno. In: Dias Rego J, ed. Aleitamento Materno. São Paulo: Atheneu; 2001.

P.409-20.

Carneiro G. Um compromisso com a esperança: História da Sociedade Brasileira

de Pediatria – 1910-2000.Rio de Janeiro: Expressão e Cultura; 2000.

31/07/2011

A MÃE PERFEITA É UM MITO

A MÃE PERFEITA É UM MITO

Revista Veja – Entrevista com Elisabeth Badinter – Edição 2226

Poucos intelectuais falam sobre os DILEMAS DA MATERNIDADE com a CORAGEM da filósofa francesa Elisabeth Badinter, 67 anos. Professora da École Polytechnique, autora de uma dezena de livros, ela sempre causou polêmicas que extrapolaram a academia. Em 1980, lançou um livro em que questionava a noção de instinto materno. A mais recente controvérsia gira em torno de seu novo trabalho, Le Conflit: la Femme et la Mère (O Conflito: a Mulher e a Mãe), best-seller na França, recém-lançado no Brasil. Badinter ataca um grupo de feministas que ajuda a consolidar no pensamento moderno a ideia de que toda mulher deve ser mãe – e perfeita. Herdeira do grupo de publicidade Publicis e mãe de três filhos, ela concedeu a entrevista de Paris, onde mora com o marido, Robert Badinter, ex-ministro da Justiça da era Mitterrand.

Como a senhora conseguiu despertar a ira de feministas, ecologistas e acadêmicos?

Tento desconstruir um mito que vem se consolidando nas sociedades modernas com a participação de todos esses grupos: o da mãe perfeita. Movidos por ideologias as mais variadas, feministas, ecologistas e os intelectuais que eu combato tratam de sedimentar no caldo cultural do século XXI a ideia de que, uma vez mãe, a mulher deve se enquadrar em um modelo único, obedecendo a dogmas que, de tão atrasados, sepultam os avanços mais básicos trazidos pela industrialização. Estou falando de pessoas que torcem o nariz para as cesarianas e chegam a fazer apologia do parto sem anestesia, sob o argumento de que há beleza no sacrifício feito em nome dos filhos já no primeiro ato. Demonizam o uso da mamadeira e até o da fralda descartável. Para essa gente, as mães nunca devem estar indispostas para suprir as necessidades de sua prole. Essa pressão só causa frustração e culpa nas mulheres.

A senhora está dizendo que as próprias feministas agitam hoje bandeiras que trazem frustração e culpa às mulheres?

Uma parte delas, não há dúvida, está dando marcha à ré em relação a conquistas anteriores. Pois elas estão, no fim das contas, retirando o direito de escolha das mulheres. Olhe um exemplo bem claro do que digo. Em 2009, a então ministra da Justiça francesa, Rachida Dati, voltou à ativa poucos dias depois de dar à luz. Foi o suficiente para que algumas feministas ficassem possessas. “O que essa ministra está fazendo que não ficou em casa amamentando seu bebê?”, elas indagavam. Diziam que os empregadores poderiam agarrar-se àquele caso para se insurgir contra a licença-maternidade e outros direitos adquiridos pelas mulheres que são mães. Em suma, politizaram a discussão sem se preocupar com aquilo que, afinal, é o fundamental: que, entre parâmetros razoáveis, elas possam exercer a maternidade à sua maneira, de acordo com seus valores e convicções. Pois digo mais sobre essas feministas: elas estão contribuindo para que as mulheres voltem para o lar!

Mas não é uma bandeira oposta à que sempre defenderam?

Não é que elas trocaram de bandeira, só que sua mensagem vai em direção contrária ao que apregoam. Essas feministas dizem que as mulheres apresentam certas características, como ternura e compaixão, que as distinguem dos homens de forma decisiva. Para elas, ser mãe seria como uma extensão natural da própria natureza feminina e, por isso, todas deveriam exercer seu lado maternal. É como um ato, uma demarcação de território. Certamente a maioria das mães de hoje não se reconhece nesse discurso, mas ele acaba se juntando ao de outras tantas cabeças pensantes equivocadas que tratam de idealizar a maternidade. Diante de tamanha pressão, muitas mulheres acabam deixando o mercado de trabalho no afã de atender às demandas que recaem sobre elas. Refiro-me a gente com alta escolaridade e com todas as chances de prosperar.

Apesar da pressão pela maternidade a que a senhora se refere, os dados demográficos mostram uma queda acentuada nos índices de fecundidade em países europeus, assim como no Brasil…

As estatísticas confirmam o que os demógrafos já previam: são principalmente as mulheres mais escolarizadas e egressas dos mais altos estratos de renda que estão-tendo menos filhos, ou nenhum. Vejo nisso um efeito direto da cobrança pela maternidade perfeita de que tanto falo. Na iminência de ficarem reféns de tantas exigências sociais, muitas simplesmente desistem de se tornar mães.

Essa pressão de que a senhora trata varia de uma cultura para outra?

Existe uma lógica bastante clara. A cobrança por perfeição incide mais sobre a cabeça daquelas mães que encarnam simbolicamente o papel de superpoderosas. Refiro-me, por exemplo, à mama italiana, à kenbo japonesa e à mutter alemã. O resultado se percebe nas estatísticas. Na Alemanha, um terço de todas as mulheres com ensino superior completo opta por não ter filhos. Trata-se de um dado espantoso. É claro que, além de toda a pressão que pesa sobre as alemãs, recai sobre elas a dificuldade de achar uma boa creche e contar com uma estrutura que lhes permita manter um trabalho.

Muitas mulheres acabam cedendo à pressão de se tomar mães, mesmo que esse não seja um desejo delas?

É mais frequente do que se poderia esperar em sociedades ocidentais avançadas. E isso não é bom. A experiência mostra de forma bastante enfática que, em geral, mulheres que nunca desejaram a maternidade, mas que acabam tendo filhos em razão da pressão da família e dos amigos, tornam-se mães impacientes, frustradas e medíocres. É espantoso que em um mundo tão moderno como este em que vivemos não pareça razoável que urna mulher simplesmente não deseje ser mãe! É como se isso significasse uma recusa à própria natureza. Os estereótipos negativos sobre as mulheres que não querem ter filhos são os piores possíveis: egoístas, insatisfeitas, imaturas, incompletas, carreiristas, só para citar alguns. Mesmo que eles não sejam verbalizados, estão sempre presentes. Uma bobagem que tem raízes mais antigas no pensamento ocidental.

Mas, afinal, os hormônios não têm influência direta na ligação afetiva que uma mãe trava com seu filho?

Sabemos que cada mulher apresenta uma sensibilidade diferente à atividade hormonal quando tem seu filho. O que é determinante para todas elas é o caldo cultural do qual emerge a ideia do amor materno, como um sentimento que deve ser livre de imperfeições e ambiguidades. É curioso notar que o conceito de maternidade tem variado na história de acordo com as mudanças socioeconômicas. Nas sociedades mais primitivas, ser mãe significava primeiro, colocar mais gente na tribo para fortalecer numericamente o grupo e enfrentar melhor os inimigos e, segundo, aumentar a capacidade produtiva. Revisito a história para relativizar essa ideia do instinto materno, que tem hoje uma aura de sagrado. Mães são naturalmente imperfeitas, como é inerente à própria espécie humana!

Quando surge o conceito de maternidade tal como conhecemos hoje?Apenas a partir do século XVIII, sob influência direta do filósofo francês Jean-Jacques Rousseau. Foi com a publicação de Émile, em 1762, que Rousseau deu o primeiro e decisivo impulso para a concepção de família fundamentada no amor materno, como é hoje. Naquele tempo, com o apoio principalmente dos médicos, ele conseguiu convencer a sociedade francesa a valorizar mais a função materna, argumentando que isso significava para as mulheres a reconquista do papel superior que lhes foi dado pela natureza.

Naquele tempo, nem mesmo as crianças eram reconhecidas por suas característica particulares, certo?

É verdade. Elas eram vistas apenas com adultos em miniatura, com pouca ou nenhuma importância na família. Entregues às amas para que as alimentassem e criassem, só voltavam ao convívio dos pais por volta dos cinco anos. Durante os séculos seguintes, todos os pensadores que se debruçaram sobre a maternidade e a infância retornaram à filosofia Rousseauniana, divulgando-a e aprofundando-a. É a própria história que nos conduz a uma conclusão óbvia: a de que o amor materno não é instintivo, como tantos apregoam, mas sim uma ideia construída.

As supermães de hoje são o produto mais acabado dessa construção história?

As mães que põem os interesses e as vontades dos filhos sempre acima dos seus são vítimas deste equívoco historicamente determinado. Essas mães acreditam que a dedicação incondicional pode ajudar a produzir uma criança perfeita, resultado dos incentivos constantes. Nada mais típico do grande equívoco atual, baseado numa interpretação exagerada da psicanálise, do que a ideia de que as crianças devem ser poupadas de toda e qualquer frustração. Esse excesso costuma produzir efeitos colaterais desastrosos: tanto para a mãe como para a criança.

Quais efeitos exatamente a senhora se refere?

Não raro, os filhos tomam o controle da situação e se tornam pequenos tiramos em casa: fenômeno que na França chamamos de L’Enfant Roi (algo como “A criança reina”). Por outro lado, causa frustração às mulheres colocarem-se sempre em segundo plano. Não estou dizendo aqui, nem de longe, que existe uma fórmula ideal para a maternidade. Algumas mães podem deixar o emprego em nome dos filhos e ficar contentes com esta opção. Outras não. Chama-me muito a minha atenção ver mulheres com expressões vazias quando cuidam de seus filhos nas praças e jardins. Fico me perguntando: qual é o problema de reconhecer que não querem passar o dia inteiro com os seus filhos? Evidentemente, elas acham que isso significaria amá-los menos.

Mas esse dilema materno não é o mesmo de sempre?


Não. De certo modo, as mulheres que têm filhos atualmente procuram ser a antítese das próprias mães. Pode-se dizer que o modelo das mulheres que lutaram por seus direitos na década de ’70, se por um lado resultou em avanços para elas, por outro se tornou constante fonte de estresse e frustração. A atual geral de mulheres assistiu à própria mãe tentando equilibrar-se em uma rotina extenuante, comprimida entre trabalho e filhos. Com esse exemplo em casa muitas das jovens de hoje enxergam na maternidade em tempo integral uma chance de levar uma vida menos maçante, uma vida mais prazerosa e plena. Talvez, se não fossem tão pressionadas a desempenhar esse papel, sempre em busca da PERFEIÇÃO, elas poderiam ter seus filhos e ainda assim conseguir trabalhar: tudo com muito mais leveza!

Em que medida o papel dos homens está mudando?


Claramente, as últimas décadas não têm sido fáceis para eles. As mulheres conquistaram o mercado de trabalho, se tornaram financeiramente independentes e, como tratores, acumularam responsabilidades dentro e fora de casa. Os avanços foram incríveis. E o que restou para os homens? Muitas cobranças e uma percepção ainda difusa sobre o seu real papel: algo que, em minha opinião, pode se definir com maior clareza nas décadas que virão. Como contribuição dos conceitos de feminstas mais radicais, ainda prevalecem uma visão muito negativa do sexo masculino. São difundidos estereótipos que em nada ajudam a compreender o mundo de hoje. É absurda a ideia ainda tão propagada de que as mulheres são, por definição, vítimas.

Qual a sua visão particular do que afinal, é ser uma boa mãe?


Esse é um assunto em que, definitivamente, não cabe modelos excludentes. É natural que a maternidade varie segundo valores, crenças e cultura familiares de cada mulher. Portanto, o máximo que posso dizer é o que sinaliza a experiência de forma bem clara: o ponto ideal é aquele em que as mulheres mantenham a equidistância entre os próprios desejos e os de seus filhos. Em outras palavras, que alcancem um ponto de equilíbrio em que não fiquem excessivamente próximas a ponto de roubar o espaço necessário ao desenvolvimento das crianças; nem tão distantes que pareçam ausentes. As mães são, afinal, referência afetiva e intelectual imprescindível aos filhos. Infelizmente, esse modelo mais harmonioso e livre de tantas cobranças é bem raro no mundo atual.

29/07/2011

Embaixadores da Prevenção

Oi, gente,




Estou participando de um projeto que tem como objetivo realizar prevenção ao uso de álcool, tabaco e drogas entre crianças, já que o primeiro contato com tais substâncias tem acontecido entre 10 e 12 anos!!!



Gravei 2 entrevistas para o programa AÇÃO NACIONAL, apresentado na TV Séc XXI às quintas-feiras 22:30h - o primeiro deles foi ao ar ontem e o segundo será apresentado dia 4/08.



Amanhã, sábado 30/07/2011, participarei de um debate ao vivo na mesma emissora, de 09:30 às 11:30h, no programa ORIENTE-SE, com Ivan Capelato e Ricardo Galhardo. O Programa é interativo e os telespectadores podem enviar perguntas.



Esse projeto é muito especial para mim, estou bastante envolvida com ele e gostaria de compartilhá-lo com vocês, convidá-los a participar e pedir sua ajuda para divulgá-lo.



Muito obrigada!



Débora

23/07/2011

Bons Professores: títulos ou motivação?

Pesquisadores de quatro universidades brasileiras analisaram 165 estudos nacionais e internacionais sobre aprendizado escolar e concluíram que o fator mais importante em sala de aula é a qualidade do professor. Uma das análises revelou que um bom docente aumenta em até 68% a proficiência do aluno. O levantamento faz parte de uma iniciativa do movimento Todos pela Educação e do Instituto Ayrton Senna, cujo objetivo é apontar caminhos para a melhoria do ensino no Brasil.

O tamanho e a composição da turma ocupam o segundo e terceiro lugar, respectivamente, no ranking dos fatores que mais influenciam a capacidade de aprendizado. Classes menores permitem atendimento individualizado e turmas homogêneas – com alunos da mesma idade e desempenho semelhante – facilitam o preparo da aula e a exposição do conteúdo. Em seguida vem o calendário escolar – com fatores como o número de dias letivos e de faltas dos docentes – e a experiência do professor em sala de aula.

Estudos demonstram que um aluno que estuda com os melhores professores da rede em vez de ter aula com os piores docentes aprende cerca de 68% a mais do que o aprendizado médio dos alunos durante o ano letivo.

Critérios frequentemente usados para seleção dos profissionais e definição de salários, como titulação e anos de carreira, não são sinônimos de qualidade. O sucesso do professor pode depender mais de características não observadas nas pesquisas, como liderança, motivação e persistência.

Quanto maior o número de alunos por classe, menor a atenção dada pelo professor a cada um, o que pode comprometer o aprendizado. Menos estudantes é sinônimo de atendimento individualizado.

Estudos indicam que o aprendizado é mais favorável em classes homogêneas, pois o professor pode preparar a aula segundo o nível da turma. O docente também se sente mais motivado e empenha-se mais em ensinar.A diversidade da turma traria por si só ganhos para os alunos em termos de convivência e respeito às diferenças.
Ter aula com um professor inexperiente, comparado a um docente com no mínimo dois anos de experiência, faz os alunos aprenderem 22% a mais no ano letivo. Além disso, é crescente a indicação de que a experiência do professor é mais importante nas comunidades mais vulneráveis.

A ausência do professor pode ter não só um impacto direto no aprendizado dos alunos, com a redução no número de aulas, mas também um efeito indireto sobre sua motivação.

- Foram selecionados 17 pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV/SP), Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec/RJ), Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
- Eles analisaram mais de 600 pesquisas nacionais e internacionais sobre educação e selecionaram as 165 mais significativas.
- O principal critério para seleção foi a publicação dos estudos em revistas e periódicos científicos, livros ou a inclusão em dissertações de mestrado e teses de doutorado.
- A partir dos estudos foram criados 25 verbetes que fazem parte do site www.paramelhoraroaprendizado.org.br, mantido pelo movimento Todos pela Educação e pelo Instituto Ayrton Senna.

O levantamento mostra que a seleção de professores não pode ser realizada somente com base em concursos e certificações. Há aspectos que precisam ser considerados (e, em geral, são deixados de lado), como a didática e o nível de aprendizado dos estudantes que precisam ser levados em conta no recrutamento e melhoria da remuneração.

Os pesquisadores afirmam também que, como o desempenho pode variar a cada período, “seria importante que a remuneração desses profissionais levasse em conta não apenas seus atributos e características – tais como ser ou não concursado ou certificado –, mas também o desempenho de seus alunos ao longo do tempo.”

Conselheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que é da qualidade do docente que parte toda a aprendizagem. “O professor é o elemento central, é dele que depende a capacidade não apenas de ensinar, mas de provocar e estimular.”

Outro ponto ressaltado durante o levantamento é a importância do engajamento da comunidade escolar e da família, o que mostra que não são somente fatores objetivos que influenciam este processo. Ramos lembra que, após os resultados do Ideb de 2007, o Unicef fez um levantamento e comprovou que os melhores colégios eram aqueles com alto poder de mobilização.

A infraestrutura e os recursos pedagógicos são fundamentais para o aprendizado, mas o levantamento realizado pelos pesquisadores demonstra que ainda faltam estudos para avaliar os impactos negativos de uma escola sem acesso à rede de esgoto ou quadra poliesportiva, por exemplo.

Consultor da Unesco e professor da Universidade de Brasília (UNB), Célio da Cunha argumenta que a escola precisa de infraestrutura básica para garantir a aprendizagem. “Para incentivar a leitura é preciso uma biblioteca e o estudante precisa também ter acesso a novas tecnologias. Por outro lado, como estudar em uma sala que não tem ventilação adequada?”, questiona.

O levantamento confirmou que questões simples, como dever de casa e atividades extracurriculares, são importantes no aprendizado, embora ainda faltem pesquisas nestas áreas. No caso do dever, por exemplo, a eficiência é ainda maior quando o docente corrige a tarefa.

Pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Evelise Portilho afirma que a aprendizagem não ocorre somente no ambiente formal. Por isso, o dever e outras atividades podem ser decisivos. “Isso auxilia o estudante a buscar outras estratégias e caminhos que vão além da sala de aula.”

Apucarana, no Norte do estado, parece ter encontrado o caminho para garantir o aprendizado mínimo de todos os estudantes da rede pública. Em 2009, a nota do Ideb do município alcançou seis, meta estimada pelo governo federal para o Brasil apenas em 2022. Todos os 10.238 alunos ficam em período integral, projeto que começou a ser implantado em 2001. Os gestores investem 32% da arrecadação em educação, sete pontos porcentuais a mais do que estipula a Constituição.

Claudio Silva, responsável pela autarquia de educação de Apucarana, explica que o resultado mais positivo é a equidade da rede. Hoje 60% das escolas estão na média ou acima de seis, 29% estão a meio ponto da meta e apenas 10% estão um ponto atrás. “É o resultado de muito esforço. Para os professores, o maior ganho é a autoestima.”

Os mais de 150 estudos analisados desmitificam algumas ideias de senso comum sobre a figura do professor, entre elas a relação entre titulação acadêmica e desempenho. Um docente formado nas me lhores universidades traz impactos positivos, mas a mesma correla ção não existe com a conclusão ou não de um mestrado, por exemplo.

Pesquisas mostram que, entre estudantes da mesma escola e vindos de ambientes familiares semelhantes, não há diferença de aprendizado quando o professor tem formação superior ou completou uma pós-graduação. Conse lheiro do Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos explica que uma das possibilidades é que há um descompasso entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido para os alunos da educação básica, por isso não há um impacto direto.

Outra hipótese é que as pesquisas existentes não conseguem mensurar a motivação dos docentes. Se um determinado professor tem o magistério como primeira opção certamente será melhor que alguém lecionando por simples falta de alternativa profissional, ainda que este tenha titulação acadêmica maior.

Por fim, uma última alternativa é que estabilidade, segurança e me lhor remuneração oferecidas a quem tem maior titulação possa ter impacto negativo sobre o esforço do professor em sala de aula. “De fato, qualquer privilégio definido segundo o nível educacional, em particular a diferença de remuneração, pode também servir de de sestímulo ao esforço dos professores”, dizem os pesquisadores do Todos pela Educação no documento.

22/07/2011

"Meu filho, você não merece nada" - Eliane Brum

Meu filho, você não merece nada

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos.

E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

- ELIANE BRUM

16/07/2011

AS MÃES REFÉNS DO CRACK - Revista Veja - Ricardo Westin

AS MÃES REFÉNS DO CRACK


Revista Veja - Ricardo Westin

O crack causa uma devastação na vida de pais e mães dos dependentes. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz indica que há hoje 1 milhão de viciados nessa droga no Brasil. Está presente em 98% dos municípios brasileiros. O crack subiu a escala social - estudantes universitários, empresários, advogados e até médicos.

Nenhuma droga danifica o cérebro com tanta rapidez. O viciado perde completamente o senso de julgamento e a responsabilidade. Fica agressivo. O viciado não se importa em passar dias ou semanas morando na rua. Diz Wagner Giudice, delegado do Departamento de Investigações sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo.

Um filho viciado em crack desestabiliza toda a família. As tentativas de impedi-lo de sair de casa não funcionam. Se as portas são trancadas, ele pula as janelas. Pega escondido o carro. Muitos pais passam noites em claro, esperando o telefone tocar - as ligações mais temidas são do hospital, da polícia e do necrotério. Alguns se arriscam procurando o filho nas cracolãndias pela madrugada. A promessa de que ele vai deixar o vício sempre soa sincera, mas nunca é cumprida. Os pais carregam seu tormento para o trabalho e para a vida social. A vida gira em torno do viciado. Muitas vezes o patrimônio familiar é dilapidado com caras e prolongadas internações em clínicas de desintoxicação. Um mês de estada nas melhores clínicas custa 20.000 reais.

O crack é uma forma mais potente de cocaína. Os efeitos de ambas as drogas são os mesmos: bem estar, energia e euforia. Essas sensações se devem ao cloridrato de cocaína, seu princípio ativo, que, chegando ao cérebro, libera dopamina, o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. A dopamina é liberada naturalmente pela comida e pelo sexo. A probabilidade de um iniciante se viciar em crack é o dobro da de se viciar em cocaína. A "brisa" do crack, como dizem os viciados, surge em dez segundos e se esvai em dez minutos. O efeito da cocaína leva alguns minutos para começar e se prolonga por até uma hora. Normalmente, basta uma semana para que a pessoa já não consiga ficar sem o crack. Com a cocaína, o vício leva meses para se estabelecer. Tanto o crack quanto a cocaína entram no Brasil em forma de pasta-base de coca, produzida na Colômbia, na Bolívia e no Peru. Os traficantes montam laboratórios caseiros perto dos pontos de venda para transformar a pasta-base em cocaína ou crack, conforme a demanda.

Há mais de cinquenta doenças desencadeadas pelo uso de crack: psiquiátricas, cardíacas, respiratórias e renais, entre outras. O enfisema pulmonar leva três décadas para se manifestar num fumante e poucos anos no usuário de crack. Para se recuperar do vício, o dependente precisa passar por um longo processo, que inclui internações, tratamento das doenças associadas, consultas frequentes com psiquiatra e psicólogo e atividades que ajudem a reinseri-lo na família e na sociedade. Também é útil participar de grupos de autoajuda, como os Narcóticos Anônimos. Já os pais e as mães do crack raramente contam com ajuda, orientação ou tratamento. Tendem a se afundar na dor, na raiva, na culpa e na vergonha. É por causa da vergonha das famílias que as ambulâncias que fazem as internações involuntárias têm mais trabalho durante a madrugada - assim, não se corre o risco de que os vizinhos descubram que o filho está doente.

A psicóloga Maria de Fátima Padin, da Universidade Federal de São Paulo ouviu 500 familiares de viciados e ex-viciados de São Paulo, principalmente das classes A e B. Em média, os pais levaram dois anos e meio para procurar algum tipo de ajuda. As principais razões para a demora:
não sabiam o que fazer (30%),
acharam que conseguiriam resolver o problema em casa (24%) 
pensaram que o uso de drogas seria passageiro (17%).

Apenas 11 %, acertadamente, pediram auxílio de um psiquiatra. Os grupos de apoio e as igrejas podem ser importantes na recuperação do viciado ­mas só depois que ele já passou por cuidados médicos e se desintoxicou.

Na prática, o único tipo de ajuda com o qual os pais e as mães podem contar são os grupos de apoio específicos para familiares de de­pendentes químicos. Os maiores são o Nar-Anon e o Amor Exigente.

Neste ano, a polícia de São Paulo apreendeu pela primeira vez o óxi, uma espécie de crack ao qual se acrescentam na preparação ingredientes baratos e perigosos como cal virgem, ácido bórico, ácido sulfúrico, gasolina e querosene. 

Um milhão de brasileiros são dependentes da mais perigosa das drogas. Ela não só acaba com a vida deles: é devastadora para as famílias

15/07/2011

21 anos de ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)

A secretária nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, Carmen Oliveira, avalia que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completa 21 anos, mudou a maneira como a sociedade lida com o público infantojuvenil. “Antes do ECA eles [crianças e adolescentes] eram considerados sujeitos menores de idade e menores também no acesso a direitos.”

Segundo a secretária, o ECA trouxe diversos avanços para o Brasil. Um dos pontos mais importantes foi a criação dos conselhos tutelares. “O conselho tutelar é uma figura ímpar, pois não existia na história brasileira antes do estatuto. Atualmente, 98% dos municípios têm conselhos tutelares”.


De acordo com ela, o governo pretende aumentar os investimentos nessas unidades. “É um investimento que vai ser feito para qualificar esse atendimento, para que realmente não tenhamos os problemas que temos, como conselho tutelar sem telefone, sem sala apropriada para atendimento, sem carro para fazer uma abordagem na rua ou para buscar uma situação de violação de direitos.”

Confira a seguir a entrevista com a secretária:

Agência Brasil: O Estatuto da Criança e do Adolescente completa 21 anos nesta quarta-feira. O que mudou nessas mais de duas décadas de vigência do estatuto?

Carmen Oliveira: De um modo geral [houve mudanças] sim, mas com algumas restrições. Temos hoje uma visível mudança do que tínhamos na vigência do antigo Código de Menores. Em primeiro lugar, porque não estava assegurada naquele marco legal a noção de que criança e adolescente têm direitos fundamentais, direitos humanos e iguais aos dos adultos. Eles eram considerados sujeitos menores de idade e menores também no acesso a direitos. Há, atualmente, um respeito maior sobre a opinião de crianças e adolescentes. Eles são chamados a dar suas opiniões, emiti-las, inclusive nos procedimentos judiciais. Isso é assegurado.

ABr: A maneira como a sociedade e as famílias lidam com crianças e adolescentes também mudou?

Carmen: Estamos vivendo um momento peculiar na vida contemporânea. Durante séculos, a infância e a adolescência não estavam na pauta. Não havia essa convivência com a própria família, tampouco com a comunidade. O conceito de infância é muito recente na história da humanidade e do adolescente é mais recente ainda. Temos as instituições e as famílias. Quando falo instituições, não falo só sobre as instituições de atendimento, mas também sobre a escola, que tem uma visão diferente dessa criança e desse adolescente. Não podemos atribuir isso apenas à vigência do estatuto, mas às mudanças culturais que foram acontecendo. Vivemos hoje um momento de implementação do estatuto e de mudanças culturais dentro deste momento da história da humanidade que faz com que a infância e a adolescência não sejam a mesma que tínhamos há 20 anos.

ABr: É difícil falar sobre o ECA e não abordar a questão social. Entre 2002 e 2010, houve um crescimento de 9.555 para 17.703 do número de adolescentes internados. Esse foi justamente o período em que houve o maior movimento de inclusão social e ascensão de classes econômicas. Por que houve esse crescimento? A questão da necessidade de cumprir medidas socioeducativas está atrelada à exclusão social?

Carmen: Podemos agrupar esses números sem distorcê-los. Por exemplo, pegando o corte de 1996 a 2004, tivemos um crescimento na internação de 218%. É praticamente impossível administrar um sistema iniciado com uma gestão com mil adolescentes e concluído com 2 mil. O que acontece é que você tem as mesmas unidades de internação para atender o dobro de meninos, e nessa duplicação você vai ter unidades superlotadas. Isso, para nós, é quase sinônimo de violação dos direitos. De 2004 a 2010, nós tivemos um aumento de 31% [das internações de adolescentes], ou seja, caiu de 218% para 31%. Em 2006, começamos a trabalhar já com o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo [Sinase]. O sistema socioeducativo no Brasil tende à estabilização no momento. Nós estamos, assim, oscilando entre um ano sem crescimento, para anos com aumento de 2%, 4%. No ano passado, os 4% de crescimento são resultado do aumento na internação provisória [quando o juiz interna o adolescente provisoriamente até tomar uma decisão a respeito da medida que será aplicada].

ABr: Ainda há pontos que possam ser melhorados no ECA, passados esses 21 anos?

Carmen: Sim. Defendemos o contínuo aperfeiçoamento do estatuto. Não o consideramos um marco legal. Várias mexidas já foram feitas no ECA, tentando melhorar aquilo que se apresentava como lacuna ou até mesmo com uma certa impropriedade. Um exemplo concreto disso foi a Lei de Adoção, aprovada recentemente. Ela melhora o estatuto em vários pontos, tanto nos procedimentos de adoção quanto nos de abrigamento institucional. No que diz respeito ao sistema socioeducativo, temos hoje em tramitação no Congresso Nacional um projeto de lei que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Ele aprimora várias coisas do estatuto, como o cumprimento de medida de internação. O único direito restrito ao adolescente é o de ir e vir. Ele tem que ter acesso à saúde, à educação, à profissionalização. O Sinase vai tornar mais concreto o que deve ser feito nos casos de aplicação de medidas socioeducativas, inclusive as responsabilidades que o gestor tem na oferta desses cuidados.

ABr: Como está a questão dos conselhos tutelares no país?

Carmen: Um ponto a ser destacado são os conselhos tutelares. O conselho tutelar é uma figura ímpar, pois não existia na história brasileira antes do estatuto. Ele é tão pioneiro que não existe em nenhum outro lugar do mundo. Temos uma implantação muito boa, pois 98% dos municípios brasileiros têm conselho tutelar. Porém, a maioria funciona com grande precariedade. O entendimento da ministra Maria do Rosário [da Secretaria de Direitos Humanos] é que os conselhos tutelares são a nossa ponta de lança em direito da criança e do adolescente nos municípios. Vamos fazer um grande investimento de reordenamento. As instalações físicas serão financiadas, também haverá atendimento com um kit e equipamentos. É um investimento que vai ser feito para qualificar esse atendimento para que realmente não tenhamos os problemas que nós temos, como conselho tutelar sem telefone, sem sala apropriada para atendimento, sem carro para fazer uma abordagem na rua ou para buscar uma situação de violação de direitos.